Renata S. Sousa-Lima - rsl32@cornell.edu
Cornell University, Bolsista do Governo Brasileiro (CAPES)/Instituto Baleia
Jubarte
Maria E. Morete - Instituto Baleia Jubarte / Universidade de Sao Paulo
Roberto C. Fortes - Instituto Baleia Jubarte
Ana C. Freitas - Instituto Baleia Jubarte
Marcia H. Engel - Instituto Baleia Jubarte
Popular version of paper 5pAB2
Presented Friday afternoon, December 6, 2002
First Pan-American/Iberian Meeting on Acoustics, Cancun, Mexico
O arquipelago dos Abrolhos, situado na regiao nordeste do Brasil, todos os anos e palco de um espetaculo sem par a estacao reprodutiva das baleias jubarte. Estas impressionantes criaturas migram das aguas geladas dos polos ate os tropicos para acasalar e criar seus filhotes. O banco dos Abrolhos e a area de reproducao mais importante do Atlantico Sul Ocidental, e de junho a novembro se estima que mais de 2.000 baleias visitem a regiao. Tal profusao de baleias fez com que o turismo para observacao de baleias "whalewatching" crescesce prodigiosamente nos ultimos anos. Mas qual o impacto desta atividade turistica no comportamento reprodutivo das baleias? Um dos principais comportamentos observados nas areas de reproducao e o canto dos machos. O canto das jubarte foi descrito pela primeira vez em 1971 num artigo de Payne e McVay na famosa revista Science. Estes autores identificaram que o canto e composto de notas que formam frases, que se repetem formando temas que seguem uma ordem definida. O canto dura em media 15 minutos, mas um macho pode cantar durante varias horas, initerruptamente, repetindo toda a sequencia do canto inumeras vezes.
Atraves do finaciamento da Fundacao O Boticario de Protecao a Natureza, MacArthur Foundation e Society for Marine Mammalogy, iniciamos em 2000 experimentos para determinar qual o impacto da aproximacao de embarcacoes a motor no canto dos machos de baleia jubarte na regiao dos Abrolhos.
Procuramos identificar alteracoes nas caracteristicas do canto em funcao da aproximacao de embarcaoes a motor. Apos localizar um macho cantando, parte da nossa equipe de pesquisadores se aproximava do animal silenciosamente, utilizando uma vela improvisada em um bote inflavel. A gravacao do canto daquele macho era realizada com um hidrofone (microfone a prova d'agua) conectado a um gravador digital, sem a aproximacao de nenhum barco a motor. Apos gravarmos pelo menos uma sessao inteira do canto, sinalizavamos ao barco de pesquisa para iniciar a aproximacao, enquanto continuavamos a gravar o canto, agora na presenca de uma embarcacao a motor. As posicoes do barco em relacao a baleia, assim como dados referentes ao comportamento da baleia e a velocidade de rotacao do motor do barco eram tomados da propria embarcacao e da base de observacao em terra (localizada na parte mais alta da Ilha Santa Barbara) durante todo o procedimento. Os sons gravados e a distancia barco-baleia correspondente aquele momento foram analisados e diferencas na duracao do canto dos dois animais estudados foram encontradas. Ambos os machos cantaram versoes mais curtas do seu canto enquanto eram expostos ao ruido do motor do barco. A duracao das frases que compoe o canto nao se alterou, e sim o numero de frases em cada tema. Tres animais interroperam seu canto logo apos o barco mudar o giro do motor, a 300 metros de distancia, e voltaram a cantar quando o motor era mantido em neutro. As consequencias da interrupcao ou alteracao do canto no sucesso reprodutivo dos machos sao ainda desconhecidas. O numero limitado de observacoes obtidas neste estudo requer que sejam realizados mais experimentos para que cientistas e tomadores de decisoes possam determinar o nivel de disturbio aceitavel que possibilite a co-existencia das baleias e da atividade turistica naquela regiao, essencial para a economia local.
Para saber mais e participar visite as paginas do Instituto Baleia Jubarte (http://www.cria-ativa.com.br/jubarte/) e do Programa de Pesquisa Bioacustica do Laboratorio de Ornitologia da Universidade de Cornell (http://birds.cornell.edu/BRP/).